terça-feira, 28 de julho de 2009
Remember me
Special dreams...
Nada como um pouco de solitude para te fazer acender um cigarro. Pensar na falta de produtividade que a sua vida virou; você aprende muito e não cria nada. Então você percebe o quanto está só... Quero dizer, você sabe que pode ligar para várias pessoas que vão entender que você pense que está só e vão tentar te convencer do contrário. Pessoas com quem, por mais que a expressão esteja batida, você sabe que pode contar.
A questão é: você não está apenas sentindo solidão, está sentindo pena de si mesma pela sua solidão, sua insignificância e sua falta de caráter em certos momentos. Então você liga para alguém que vá confirmar seus defeitos, certo? Alguém por quem você não tem mais estima, mas cuja opinião, de alguma forma, ainda te influencia.
Confirmados os seus sentimentos egocêntricos de inferioridade, você espera a ligação cortar sem a coragem para fechar seu celular moderninho de flip sem ter certeza de que desligaram do outro lado da linha.
Finalizada a ligação, você ouve a voz de Brian Molko no final de English Summer rain, olha para sua mochila largada perto da cama e visualiza o maço de Black praticamente vazio dentro dela. Só um último cigarro e o isqueiro dentro dele; você lembra que tinha dito para si mesma que só ia acendê-lo em um momento único, algum momento com significado, lembra que sua mão não aprova o fumo, lembra que você mesma não o aprova! Mas aquele é um momento especial, certo? E você tem que acabar com aquilo antes que se acostume a ter um maço na mochila, não é?
A música acaba. “The sea’s evaporating, tough it comes as no surprise, there clouds we’re seeing, they’re explosions in the sky, hush... It’s okay, dry your eyes, dry your eyes.” Nada poderia parecer mais uma confirmação da sua sina.
Silenciosamente, você abre a mochila, pega o maço, tira o blackzinho de dentro dele, fecha a porta, vai até a janela e abre a cortina. Ainda com um “q” de resistência você acende seu isqueiro barato de não-fumante. Trague e acenda seu cigarro. As coisas mudam, sua postura muda, você muda, mas não deixa de ser você.
Você volta a pensar na sua improdutividade, mas vê a coisa com outros olhos. Você se sente mais digna, de uma forma fútil e covarde, por mais contraditório que isso possa ser. “Farewell the ashtray girl, forbidden snowflake. Beware this troubled world...” Só com o cigarro acedo a garota cinzeiro em você consegue enxergar motivos para a falta de preocupação e criatividade que é o mundo hoje em dia. Você pensa em todas as pessoas grandiosas e viciadas em nicotina... São muitas por sinal. Acredite por um minuto que você é inteligente e culto, ou seja lá no que você preferir acreditar. É uma verdadeira masturbação intelectual observar a rua silenciosa imersa em fumaça, mas você nunca vai chegar a gozar.
O cigarro está acabando, mas a fossa continua lá. A diferença é que agora você ganhou certo gás para sair dela... literalmente ou não. Convenientemente Brian começa a cantar “See you at the bitter end...” para você. Você nem se dá ao trabalho de apagar o cigarro, joga-o pela janela aceso antes de chegar à logomarca perto do filtro. Se dirige até o banheiro, escova os dentes e torna todo o esforço e tensão inúteis... Não, não foi inútil. Um cigarro dura exatamente o tempo no qual ele estiver aceso em suas mãos. Janela aberta, porta aberta, pasta de dentes de menta, sabonete de lavanda, você torce para que o cheiro todo tenha sumido até o amanhecer.
Foi especial afinal, este ultimo Black, como prometido sem palavras. Pelo menos por hora ele acabou com a minha improdutividade, mas quero ter certeza de que não preciso disso. Não preciso escrever sobre um cigarro e não preciso fumar para me sentir criativa. Minha criatividade não é passional, apenas eu sou passional. “Don’t forget to be the way you are... Don’t be plasticine.”
Por isso escrevo, por isso toco, por isso desenho, por isso crio. Eu crio pelo que sou, muito mais do que um rolo de toxinas, serei mais a cada dia que se passar. Serei grandiosa e importante para o mundo, e minha masturbação intelectual finalmente chegará ao ápice de tudo. “Just nineteen a dream obscene, with six months off for bad behaviour.”
Nota: transferido do meu antigo blog "Pleasently Strange".
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